Roger Waters veio, transpôs o muro e venceu
Já se sabia que Roger Waters ia tocar o álbum conceptual ‘The Wall’ (1979) do início ao fim. Já se sabia que ia haver um muro gigante, onde seriam projectadas imagens. Já se sabia que o cenário seria monumental e marcante. Mas nada do que já se sabia, por muito requintada que fosse a nossa imaginação, poderia supor metade da produção que o músico trouxe ao Pavilhão Atlântico, ontem. O melhor concerto de sempre, dizem uns. O concerto de uma vida, dizem outros. A verdade é que as palavras não chegam para descrever o que se viveu naquela sala. Cabe-nos a ingrata tarefa de tentar.
No concerto que marcou o arranque da digressão europeia, Roger Waters manteve-se fiel ao alinhamento do álbum e do filme homónimo. A história – a do próprio cantor – é a de um rapaz que viu que o pai não voltou da guerra. Percebe-se por isso, que o espectáculo tenha sido marcado por imagens de guerra e muitas mensagens e críticas contra ela. Um manifesto de raiva e dor, que sentiu na altura.
A força e a autenticidade dos holofotes a imitar helicópteros e tiros, quase nos transportava para um cenário de guerra verídico, com direito a um avião real a destruir parte do muro. Ao longo do espectáculo, aquela parede foi demolida e reconstruída, até esconder todos os músicos. Atrás do muro, Roger Waters chegou mesmo a cantar ‘Hey You’. E no fim, foi definitivamente deitada abaixo.
Perante um muro de 10 metros de altura e 75 de comprimento, percebia-se a insignificância do ser humano. Roger Waters sobressaia à frente de projecções de animações, fotografias, vídeos antigos, imagens de guerra, frases em várias línguas e mensagens. Tudo marcado pela grandiosidade e pela monumentalidade, pelas projecções geniais a 3 dimensões e pelos bonecos insufláveis e marionetas gigantes.
O álbum – e filme – foram interpretados com a mestria habitual, mostrando o ex-líder dos Pink Floyd em forma, dando grande protagonismo ao lado instrumental, com os emblemáticos solos.
Destaque para a música ‘Another Brick in the Wall Part I’, que contou com um coro de crianças da Cova da Moura, e para ‘Comfortably Numb’, acompanhado pela sala esgotada. Antes de tocar ‘Mother’ dirigiu-se pela primeira vez ao público. Em português disse «Boa noite Lisboa, bem-vindos», e afirmou que não imaginava melhor sítio para começar a digressão europeia. Apresentou o tema e explicou as imagens que se seguiam. Filmagens de 79/80, que ocupavam todo o palco, onde cantava a canção.
Dividido em dois, com intervalo e tudo, o espectáculo marcou duas noites, que não vão deixar acalmar a memória tão cedo.
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