«Na rádio tudo começou aos 15 anos porque fiquei a namorar...»
A mais conhecida voz das manhãs da RFM, que há dez anos bebe café em directo com José Coimbra, ao vivo, é igualmente simpática e acolhedora, mas mais tímida do que a maioria dos ouvintes provavelmente imagina. Formada em Ciências da Comunicação, mãe de dois filhos, e co-autora do livro 'Ó Mãe!!!', conta como uma reportagem falhada a levou ao mundo da rádio e como às vezes se sente numa «telenovela do mundo real».
Nome Carla Rocha Nasceu Faro, 1973 Mãe Da Inês, de 10, e do Vasco, com 1 ano, «apesar de conviver todos os dias com um ser mimado, caprichoso e birrento, como o José Coimbra» Licenciatura Ciências da Comunicação, na Universidade Autónoma, e uma pós-graduação em Comunicação e Gestão de Marketing e Multimédia Marco Importante Experiência na Kiss FM, em Albufeira
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Como é que começou a sua história na rádio?
Comecei a trabalhar com 15 anos num jornal local de Albufeira, onde morava, e houve um domingo em que tinha de ir fazer a reportagem de uma prova de supercross. Só que em vez de ir fiquei a namorar! Depois comecei a pensar como é que ia fazer uma reportagem de uma coisa que não tinha visto! Com aquela inconsciência da adolescência, meti-me na minha motinha e decidi ir à RTA, perguntar se sabiam alguma coisa, e o locutor, que me abriu a porta, disse que não sabia nada sobre a prova, mas que achava que eu tinha uma boa voz e precisavam de uma pessoa para a rádio. Achei surreal, mas apareci lá no dia seguinte para fazer um teste, e fiquei. Inicialmente só a passar música, e mesmo assim fiz tanta asneira enquanto estava nessa fase, desde tirar o disco de vinil enquanto estava no ar (lembro-me que eram os U2), até tentar pô-lo outra vez com a agulha sempre a saltar... [risos] que sinceramente não sei como é que a coisa teve continuidade.
Daí veio para Lisboa?
Não, ainda passei pela Kiss FM, em Albufeira, que foi a grande escola e me permitiu sonhar mais alto, porque comecei a achar que podia fazer vida daquilo. Aos 18, vim para Lisboa estudar Ciências da Comunicação na Universidade Autónoma e comecei a trabalhar na Rádio Comercial, que me deu um programa ao final da tarde. O Rádio Club Português, que ia renascer na altura (em 1994), ouviu-me e recrutou-me. Fiquei um ano na RCP e depois vim para a RFM.
Onde faz o Café da Manhã, todas as manhãs já há dez anos, onde os ouvintes já acompanharam o seu casamento, o nascimento do seu filho...
E apesar disso, o Café da Manhã ocupa muito do meu tempo, é um bebé que tem de ser alimentado e vestido, todos os dias sem excepção. Mas, sabe, a partir do momento em que percebi que rádio era aquilo que gostava de fazer a RFM tornou-se a aspiração principal. E de facto a minha entrada aqui foi um bocadinho um conto de fadas.
Gosto de contos de fadas, por isso conte-nos tudo...
Concorri a um passatempo da RFM, cujo objectivo era simular uma reportagem de um concerto da Celine Dion e ganhei uma viagem a Holanda. Acabei por ganhar um emprego também!
Acontece-lhe ser reconhecida só pela voz?
Já me aconteceu. A mais recente foi num restaurante no Brasil. Eu precisava de saber o que era um 'creme de Sururu' e perguntei a uma senhora portuguesa que ali estava. Ela não sabia o que era a sopa mas reconheceu a minha voz! Também porque a RFM tem uma legião de ouvintes fiéis.
Sente que tem um grande vínculo com os ouvintes?
Sim! Acompanharam-me quase como se fosse uma telenovela da vida real... Exemplo disso foi no concerto dos U2 em Coimbra, em que o Zé [Coimbra] e eu comentámos que não tínhamos sítio onde ficar. Não imagina a quantidade de pessoas a oferecer a casa, a mandar fotografias dos quartos!! São tão generosas e genuínas, é comovente.
Não é um bocadinho assustador essa ideia de que criam expectativas e até a sensação de que têm direitos sobre elas?
As pessoas são sempre muito simpáticas comigo, mas pode acontecer não termos o tempo que esperam para elas quando um dia nos encontram ao 'vivo, e aí podem ficar com a ideia de que foram 'enganadas'. O que é injusto, afinal, porque nem sempre se tem disponibilidade.
Ao longo destes anos acha que a rádio mudou muito?
Sim, a rádio ganhou argumento, ou seja, antes um programa acabava às 10, acabava as 10. Hoje não, acaba mas a seguir é preciso dar-lhe continuidade no Facebook, mostrar o vídeo do que se passou nos bastidores, no estúdio. Ganhou motivos de sobra para passar a barreira do som, já não é só áudio. E vai em direcção ao vínculo com as pessoas. Estas sentem necessidade de acompanhar, de conhecer...
Tem de dominar mais áreas...
Sinto que para não perder o comboio tenho de andar depressa! Dou aulas na universidade, e fiz uma pós-graduação, o ano passado, precisamente em Comunicação e Gestão de Marketing e Multimédia para perceber também um bocadinho como é que nós, como apresentadores de um programa de rádio, podemos lidar com todas essas áreas.
O programa vive muito do humor. O humor é uma grande arma de sobrevivência?
O humor, o ser capaz de ver o lado divertido do que nos vai acontecendo. Ainda há muitas vezes que não o consigo fazer no momento, porque estou tão irritada ou indignada, mas espero aprender, pelo menos, a reconhecer na altura que aquilo, a curto prazo, vai ser um momento de paródia... só assim conseguimos enfrentar tudo.
Sente que os portugueses já se riem mais de si próprios?
Sim, sim! E é um bom sinal! Uma sociedade que se consegue rir de si mesma está mais consciente das suas limitações e daquilo que pode fazer para progredir.
Trabalhar numa rádio católica altera alguma coisa na forma como faz rádio?
Sinto que me dá uma responsabilidade acrescida de passar uma imagem positiva das pessoas, do País. Temos de acreditar na natureza humana e passar esses valores. Não é por ser um programa da manhã que deixa de tratar assuntos mais sérios.
Confessou que tem um 'filho mais velho', o José Coimbra, que aliás lhe dá mais preocupações do que os seus! As mulheres são sempre mães dos homens?
[risos] Completamente! É o meu segundo casamento, tenho passado uma vida com o Zé, falamos ao longo do dia várias vezes. É o nosso instinto protector, o nosso instinto de mãe, e canalizamos esse instinto para as pessoas de quem gostamos.
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As mães têm várias pastas, o que torna o desafio maior...
Como surgiu a ideia do livro?
Foi um convite do Verso da Kapa. Somos três mães autoras, todas muito diferentes. A Ana Margarida [Oliveira] tem dois rapazes, a Zé [Areias] duas raparigas e eu estava prestes a ter a experiencia de ter um 'casalinho ideal' (a Inês e o Vasco, agora com 10 e 2 anos).
Conta muitos episódios divertidíssimos das suas 'guerras' com a Inês...
Costumo dizer que está na pré-adolescência desde os 4 anos! Às vezes não sei se hei-de ficar enervada ou orgulhosa por ter uma filha que consegue dar a volta às situações...
Como na história do cartaz?
Essa foi recente. A Inês tem o hábito de colar desenhos no prédio todo e eu já lhe tinha dito que não podia ser. Uns dias depois do tsunami disse-me que tinha colado um cartaz, e eu fiquei tão zangada pela desobediência que a meti de castigo. Nem fui ver o que era, até me terem chamado a atenção. Quando percebi até pus no Facebook, comentando que tinha de lhe pedir desculpa, porque era um apelo a que as pessoas ajudassem o Japão. E eu a repreendê-la!
E com o Vasco?
Com o Vasco tem sido tudo mais tranquilo, mais sereno.
Acha que o papel do pai mudou muito nos últimos anos?
Sim, os homens evoluíram, têm mais consciência de que têm de estar emocionalmente muito presentes. Felizmente tenho uma pessoa ao meu lado que percebe que tem de ter um papel igual ao meu.
As mães querem dividir tarefas ou querem um ajudante, a quem podem dar instruções?
Sinto isso [risos] e tento não ser a mandona, mas quando ligo a dar muitas directrizes, mais cedo ou mais tarde oiço: «Mas és tu ou sou eu quem está aqui?» Temos mesmo de aprender a confiar...
Está numa 'família reconstruída'. A Inês lida bem com isso?
Sim, porque tem uma relação óptima com o pai. O pai dela também tem uma nova família e mantemos uma relação saudável. Por vezes até nos encontramos todos, o que prova que o mundo está diferente. Mas é fundamental na fase em que está tudo em transformação que nenhum tente denegrir a imagem do outro.
Culpa? Sinónimo de mãe?
Sim, culpa é mãe! Uma mãe tem várias pastas e, por isso, pode ser chamada à responsabilidade várias vezes. Vamos ter sempre esse sentimento de ter medo de falhar, temos de viver com isso.

34 comentários
Um testemunho de alguém que acredita em si e nas suas capacidades! Excelente! Destes testemunhos precisamos! Mais... destas mulheres queremos! Muitas... em todas as áreas, repito, em todas as áreas...
Porque não entrevistar, neste tempo de crise, mulheres desconhecidas que fazem trabalhos simples mas com amor e são felizes? Para serem exemplo para aquelas que não acreditam que isto vai melhorar?
Eu acredito!
Isto é que vai . . . !
Par aqui uma . . . !
Caldeirada . . . !
De "malguinhas" . . . ! ! ! ! !